sábado, 23 de janeiro de 2010

Kundera me traduz...

...mesmo quando não concordo com ele.
Veja só!




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"Rilke diz do amor de Betina: Esse amor não precisa ser retribuído, contém em si mesmo seu apelo e sua resposta; ele se satisfaz a si mesmo. O amor plantado no coração dos humanos por um jardineiro dos anjos não precisa de nenhum objeto, nenhum eco, nenhum Gegen Liebe (contra-amor, amor retribuído). O amado não é a causa nem o objetivo do amor.
Betina escreveu: O amor verdadeiro (dire wahre liebe) é incapaz de infidelidade. Esse amor que não se preocupa em ser retribuído (die liebe ohne Gegen-Liebe) procura o amado em todas as suas metamorfoses.
Um amor plantado em um coração pelo seu próprio amado é um amor inimitável, intercambiável, destinado àquele que o havia plantado, àquele que era amado, e portanto amor que não conhecia metamorfoses. Poderíamos definir semelhante amor como uma relação: uma relação privilegiada entre duas pessoas.
Ao contrário disso, o Wahre Liebe - amor verdadeiro - não é amor-reação, mas amor-sentimento. Um amor assim não conhece infidelidade, pois mesmo se o objeto muda, o amor continua a mesma chama, iluminada por uma mão celeste. A causa e o objeto do amor não é a pessoa amada, mas o amor."


Tenho medo dessa palavra "Amor", principalmente quando se diz "Amor Verdadeiro". Acho que não conheço esse sentimento que é apenas um sentimento: um amor que não é relacionado ao objeto amado.
Mas tenho pensado muito sobre isso ultimamente.





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"Em seu espírito, a noção de amor estava ligada à imagem do oceano, o mais tempestuoso dos elementos. Mesmo sendo feliz com sua mulher, mesmo amando-a, sentia em algum recôndito secreto de sua alma um ligeiro, um tímido desapontamento com a idéia de que seu amor nunca tivesse se manifestado de maneira um pouco mais dramática. Quase invejava em Laura os obstáculos que tinha encontrado em seu caminho porque, segundo ele, apenas os obstáculos podem transformar o amor em história de amor."


Mais uma vez, o amor. Sempre visualizei o amor como algo calmo e harmônico. Sem obstáculos, sem dramas.

Por outro lado, digo que a vida precisa de obstáculos. Quanto mais oceanica ela for, mais proveitosa será.

Daí meu cérebro entrou em conflito. :/

Mas sei que os sentimentos mais bonitos que já senti foram os menos tempestuosos.





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"Paulo dizia: Uma pastagem não é nada mais do que um campo de sofrimento. Neste lindo verde, um ser morre a cada segundo, as formigas devoram na terra as minhocas vivas, os pássaros estão vigilantes em pleno céu, à espreita de uma doninha ou de um rato. Você está vendo este gato preto imóvel entre a folhagem? Ele está só esperando uma oportunidade para matar. Acho repugnane o respeito ingênuo que temos pela natureza. Você acha que nas mandíbulas de um tigre uma corça fica menos espantada do que você mesma ficaria? Se as pessoas dizem que um animal não pode sofrer tanto quanto um homem, é porque não poderíamos suportar a idéia de viver no meio de uma natureza que não é senão atrocidade, apenas atrocidade."


Essa é a melhor!

Nunca duvidei da sacralidade da natureza: onde nada se perde e tudo se equilibra. Existem leis nessa natureza. Leis matemáticas, biológicas. São leis divinas.

Mas não seriam as leis humanas superiores às leis divinas?

Afinal, a dor está evidentemente presente na natureza. Pode-se fazer uma longa discussão sobre a presença da dor na vida, mas não é isso que quero expressar. Digo que a lei humana tenta suprimir a dor, enquanto a lei divina é indiferente a ela.

Paulo fica feliz de ver o homem cobrir pouco a pouco toda a terra de cimento. A primeira vista, isso me parece um absurdo. Agora vejo que não é tão simples assim... Continuo achando o homem sujo, aquele que causa sofrimento sem fundamento, mas...




Será que vivo melhor num mundo social onde os seres tentam viver de maneira harmônica através de leis? Ou a natureza realmente é um acerto: um sistema sagrado onde a vida acontece perfeitamente?

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